Os evangélicos ganharam peso nas eleições deste ano. A bancada de deputados federais saltou de 39 deputados eleitos em 2006 para 64 e já representa 12,5% da Câmara. Por outro lado, a bancada católica encolheu para 21 representantes. “Um dos fatores é o crescimento do número de fiéis evangélicos pelo país”, diz o deputado João Campos(PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica e pastor da Assembleia de Deus. O pastor estima que os evangélicos já correspondam a 25% da população brasileira. No último Censo feito no país, em 2000, os evangélicos eram 15,4% da população. Os católicos correspondiam a 73,6%. “Houve crescimento forte com grande renovação dos deputados eleitos com o voto da igreja”, diz a pesquisadora do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Viviane Sena. Os partidos que mais representarão os evangélicos na Câmara serão PSC, PR e PRB. O PSC é quase todo ligado à Assembleia de Deus. O partido ganhou força nas eleições de 2002 ao apoiar o então candidato a presidente da República do PSB, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, da Igreja Presbiteriana, campeão de votos no Rio como deputado federal pelo PR. Todos os oito deputados do PRB são da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Outros partidos pouco associados à religião fizeram alguns de deputados entre os religiosos. É o caso de Gabriel Chalita, carismático da Igreja Canção Nova, do PSB de São Paulo. Chalita foi o segundo deputado mais votado do país, com 550 mil votos, perdendo apenas para o comediante Tiririca (PP-SP). Outro caso de sucesso eleitoral é Bruna Furlan (PSDB-SP), da Igreja Cristã do Brasil, da ala pentecostal dos evangélicos. Filha do prefeito de Barueri (SP), Rubens Furlan, Bruna foi a terceira deputada mais votada no Brasil. Recebeu 269 mil votos. Os evangélicos elegeram ainda cantores gospel, como Marcelo Aguiar (PSC-SP), da Igreja Renascer, e Lauriete Almeida (PSC-ES), da Assembleia de Deus, com 24 CDs gravados. Numerosa, as bancada evangélica promove, às quartas-feiras, culto em plena Câmara com música e até deputado tocando acordeão. Cantores gospel de passagem por Brasília dão canja no culto que chega a reunir 200 pessoas de diferentes denominações. A bancada católica reza missa toda quinta-feira. A maior bancada eleita em 2010 entre todas as denominações foi a Assembleia de Deus, que passou de 9 deputados em 2006 para 19 representantes em 2010. “As lideranças estão sendo mais ousadas para orientar o povo. É importante que tenhamos nossa representação, independentemente de citar o candidato. É um trabalho de conscientização”, diz o deputado João Campos. Entre os católicos, a bancada encolheu de 30 para 21 de 2006 para 2010. A redução foi acompanhada do aumento de deputados eleitos da renovação carismática. Se na eleição de 2006 os carismáticos contavam com apenas um representante, terão a partir do ano que vem Gabriel Chalita, Eros Biondini (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PDT-SP) na Câmara. Zimbaldi deve presidir a bancada católica do movimento pró-vida, que milita radicalmente contra o aborto. O PT tem cinco representantes dos católicos. Três deles são ordenados – padre Luiz Couto, reeleito na Paraíba; padre João, de Minas Gerais e padre Tom, de Roraima. Outro que já faz parte da Frente Católica é o padre José Linhares (PP-CE), reeleito. De diferentes partidos, a Frente Evangélica se une contra questões como aborto, eutanásia, infanticídio em áreas indígenas, casamento gay e legalização das drogas. Para outras questões além da discussão de temas ligados ao que chamam de valorização da vida e de valores da família, cada parlamentar segue a orientação de seu partido na hora de votar no plenário. “Os evangélicos estão presentes em diversos partidos. Não há interesse em ter alinhamentos partidários”, diz o pastor João Campos. Entre os católicos, a divisão política é mais nítida. O candidato a deputado derrotado Paulo Fernando Costa, do PTB do Distrito Federal, assessor da Frente Católica e do movimento pró-vida, diz haver um viés “contra Dilma, contra o PT” na bancada católica. “Fomos contra o presidente Lula”, diz. Os deputados do PT, no entanto, não fazem oposição em questões fora do espectro dos valores defendidos pela frente.
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