Por que o comportamento das pessoas muda no Carnaval?




Homens e mulheres fantasiam-se de formas diferentes e também por motivações distintas

Anita Martins @anita_nd FLORIANÓPOLIS

O carnaval transforma. Seja pobres em ricos, donas de casa em prostitutas, machões em travestis, ateus em padres ou, no mínimo, trabalhadores frenéticos em preguiçosos. Nos quatro dias de folia, o que vale é a diversão. “Tanto que o prefeito entrega a chave da cidade para o Rei Momo, como quem diz que acabou a parte da séria do ano”, analisa a professora do Centro de Ciência da Educação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e pesquisadora do Carnaval Cristina Tramonte.

O assistente administrativo Rodrigues Viana, 34 anos, trabalha o ano todo no Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal de Santa Catarina. Além disso, é presidente da Associação de Moradores do Bairro de Sambaqui. Mas, em cada Carnaval, assume uma personalidade diferente. Já foi noiva, colegial, mulata e, muitas vezes, a própria esposa. “Uma vez, saí com uma saia bem curtinha e de calcinha fio dental. Foi uma zona, todo mundo queria fotografar a minha bunda”, conta, dando risadas.

Neste ano, ele vai de líder de torcida americana (cheerleader), assim como outros oito amigos. O grupo vai desfilar no sábado, saindo da esquina da rua Osmar Cunha com a avenida Rio Branco, no Centro. Essa é a primeira vez que Viana manda fazer uma fantasia. “Antes, só usava roupa da minha mulher. Ano passado, fui com uma calça jeans e um tênis dela. Quase morri de calor. E meus dedos quase morreram esmagados”, lembra.

Homens vestem e mulheres tiram a roupa

Enquanto os homens costumam se travestir, as mulheres, em sua maioria, preferem vestir menos roupas ou escolher looks ousados, que mostrem o corpo. Não é comum uma mulher se fantasiar de homem – e, nem mesmo, querer fazer isso. “A gente usa calça o ano inteiro. Eles é que têm curiosidade de colocar um vestidinho”, justifica a estudante Débora Franco, 23 anos.

A antropóloga Miriam complementa dizendo que, no cotidiano, as mulheres já assumem papeis tradicionalmente masculinos, tanto na família quanto no trabalho. “Por isso, talvez não seja tão necessário para as mulheres fazer essa inversão. Em compensação, os homens utilizam esse momento como um relaxamento da masculinidade tão exigida pela sociedade. Eles vivenciam aquilo do que mais têm medo, de ser chamado de gay, boiola, veado”, explica.

Para as mulheres, o que parece vir à tona nos dias de folia é a sexualidade e a sensualidade reprimidas. A estudante Camila Lemos, 22, concorda que o Carnaval é uma época para se comportar de um jeito diferente. “Eu faço coisas que na faria no meu dia a dia. Se, durante o ano, você sai de biquíni na rua, vão te reprimir. Mas, no Carnaval, é tudo lindo. Até mesmo os padrões estéticos mudam. Não tem problema uma barriguinha aparecendo”, diz.

Para a recepcionista Francine Gevaerd, 23, a mudança é ainda mais radical. “Normalmente, eu sou bem recatada”, define-se. Mas, no Carnaval, ela se transforma. Neste ano, será Princesa da Palhoça. “Quando você entra na passarela, vestida com o biquíni todo bordado de lantejoula, se sente uma diva, a autoestima aumenta, é ótimo”, revela.

Mesmo quem não se fantasia veste roupas mais sensuais. Até as camisetas de bloco são customizadas para exibir as formas femininas. “Eu sempre corto as blusas, faço decote, deixo as costas de fora. Assim, a gente se sente mais mulher”, relata Camila.

Se vestir de mulher não espanta mulher

Engana-se quem pensa que os homens que se vestem de mulher não fazem sucesso no Carnaval, garante Viana. “A minha mulher adora. Ela, inclusive, me ajuda na produção do visual. Compra unha postiça para mim, me maquia e tudo”, diz.

E para os solteiros, a regra também vale? “Claro”, afirma um deles, o estudante Alexandre Luz, 27, que há seis anos usa fantasias femininas no Carnaval. “As mulheres são muito receptivas. Te olham e sorriem. Daí é só chegar, fazer uma brincadeira do tipo ‘minha blusa é mais bonita que a tua’ e já era”, diz.

Quando não era casado, Viana usava uma técnica parecida. “Elas vinham perguntar como tinha feito a unha ou onde tinha comprado o sapato. Era só falar que só ia contar se ganhasse um beijo. Pronto. Simples assim.”

Para a professora de Antropologia da UFSC Miriam Grossi, uma das muitas interpretações que se pode tirar desse comportamento é que as mulheres se encantam com a transgressão. “Elas pensam ‘esse cara deve ter algo interessante já que não está tão preso à figura do macho’.”


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